quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Fruto de bibliografia consultada


Reflexão 
Livro de José Luís Peixoto – Título “Morreste-me”

Ler o livro “Morreste-me” do conceituado escritor José Luís Peixoto fez-me reportar para um mais longínquo, mas sempre presente, período da minha vida, para as minhas próprias vivências como mulher, como profissional de saúde (que já era na altura) e essencialmente como filha de um Pai, sentido e classificado por mim como o ”alicerce da minha existência”. No que respeita a valores, era possuidor de um sentido de justiça inigualável. Perante as tomadas de decisões mais difíceis, lá estava ele a defender o que estava certo, ponderando e escutando todas as partes intervenientes. Nas mais variadas situações da vida, nos momentos mais críticos, tinha um senso fora do comum.
Esta referência, esta pessoa estava “à beira de morrer”…. E…morreu.
Este passado, mais ou menos recente da minha vida, que nunca esquecerei, para muitos é absolutamente comum e também já o vivenciaram mas, sinto-o, não como eu… Cada pessoa, perante uma situação idêntica, reage sempre de maneira diferente ou não teríamos, cada um, a nossa própria e única impressão digital. Para outros, há situações da vida que preferem nem falar, deixar à margem, alheios à realidade dos factos
Há que tomar consciência! Todos nós um dia havemos de morrer!
A frase “nunca esquecerei”, várias vezes referida pelo autor, só por si, daria para um título e um consequente livro, provavelmente uma história, baseada em casos verídicos que gostaria um dia de contar.
As coisas, os ensinamentos da vida que o meu pai me deixou, nem que fosse através de um olhar, de um gesto, da lembrança de um acontecimento remoto...”nunca esquecerei”…”Nunca esquecerei”, Pai, toda a ternura todo o Amor que me dedicaste, enquanto viveste. Valores tão básicos e fáceis de referir mas tão difíceis de transmitir como: Amor, Justiça, Partilha, Solidariedade, Amizade, Generosidade, Ajuda ao próximo.
Conseguiste! Conseguiste transmitir e educar-me nesta panóplia de sentimentos, vivências e aprendizagens que me motivam a viver e que são, os pilares da minha vida. Até hoje, e enquanto viver, este reconhecimento e esta herança serão eternos… Sim, eternos, enquanto fores lembrado por aqueles que em comum viveram contigo e pelos descendentes cujo teu nome e valores que defendias… serão sempre apontados, referenciados e aplicados no dia-a-dia dessas pessoas. Aí sim, enquanto fores recordado, nunca morrerás para mim! És a luz que acompanha os meus actos, que me indica o caminho a seguir quando desorientada, indecisa.
Tudo são resquícios de uma memória que quero sempre homenagear.
Sinto que hoje percorro os caminhos de meu Pai. Ando, corro, perco-me, encontro-me e volto. Volto a ti, àquilo que me ensinaste. Pai, a tua vida, os teus ideais, as tuas memórias não se resumiram, não se acabaram, não se enterraram naquelas quatro tábuas de um caixão lindo, coberto de flores, lançado à terra fria e húmida de um triste Dia de Reis de Janeiro.
É impossível que morreste! Foi apenas uma passagem, um dia! Porque continuas em mim…“Deste-me o que tenho. Construíste-me e construíste esperança no que tocaste” (Peixoto, 2009:33). Recordações não cabem no espaço longo que vai da terra ao céu, que é onde tu estás. Pai!
Sinto também “o negro da tua falta” Peixoto (2009:37) no teu lugar à mesa, na cama onde dormias com a minha mãe onde, tantas vezes, aninhava-me junto de vocês passando os serões a conversar, sei lá o quê.
O livro fez-me reviver, momentos simples que passámos, pequenas lembranças, gestos, gostos, pequenos nadas que se tornaram tão grandes, tão fortes em mim, aquando da tua morte, e que perduram até hoje. A certeza de que resolveste tudo em ti, estando bem com os outros, faz-me descansar e aceitar a tua morte como um facto natural da vida. A partir daí, tudo o que faço, o que crio, o que construo é em tua memória!

PS: No passado dia 5 de Janeiro perfez 16 anos que o meu Pai faleceu de “ neoplasia do esófago” fulminante. Foi internado para efectuar, uma série de exames para confirmação de diagnóstico e pereceu ao 3º dia de internamento, na minha presença ao pegar-lhe na mão.

Angra do Heroísmo, 10 de Janeiro de 2011
  

 Helena Gouveia, Aluna no Curso de PGCP na ESEnfAH-UAC

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