sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Conviver com as Demências


Inserido numa iniciativa do Núcleo Regional Açores da Associação Portuguesa de cuidados paliativos, foi efectuado um Colóquio/Debate sobre “Conviver com a demência”, no dia 29 de Novembro, pelas 21h na Biblioteca Municipal de Ponta Delgada, dinamizado pela enfermeira Lina Andrade.
A demência, ao contrário do que erradamente se considera como doença, é uma síndrome que se caracteriza através do declínio das funções cognitivas manifestando-se pelas alterações de memória, concentração/atenção, linguagem, raciocínio/abstracção, julgamento/crítica, orientação, cálculo, praxias, gnosias e funções executivas. Esta síndrome apresenta sintomas comportamentais e psicológicos, tendo uma duração e intensidade suficiente para comprometer a função social e ocupacional.
As demências aumentam de prevalência com a idade mas não são exclusivas de idosos, sabendo-se que existe uma maior predisposição genética e de história familiar.
Etiologicamente, existem dois grandes grupos: as demências degenerativas e as demências não degenerativas. Como exemplo mais representativo das degenerativas temos a doença de Alzheimer, podendo também falar-se de doença de Parkinson, doença de Huntington, doença com corpos Levy. Nas demências não degenerativas, a mais representativa é a demência vascular (por ex. enfarte) e outros exemplos serão depressão, traumatismo crânio encefálico, tumores cerebrais, infecção sistema nervoso central, alcoolismo, intoxicação medicamentosa.
Há que considerar que, não havendo possibilidade de fazer testes laboratoriais específicos, é preciso ter atenção à história clínica, exame físico e neurológico geral, exame cognitivo e exames laboratoriais.
Esta síndrome foi classificada em três estadios: demência leve, demência moderada e demência acentuada ou avançada, assistindo-se a um declínio gradual das capacidades. A demência leve caracteriza-se por perdas cognitivas ligeiras, juízo e crítica relativamente preservados, pouca dificuldade na linguagem, vida independente apesar das alterações. A demência moderada, por sua vez, apresenta perdas cognitivas moderadas, juízo e crítica prejudicados, dificuldade na linguagem acarretando compromisso na comunicação e necessária supervisão uma vez que se denota risco de vida independente. A demência acentuada, como último estadio, apresenta perdas acentuadas de cognição, incapacidade de juízo, crítica e comunicação, as actividades de vida estão maioritariamente comprometidas, sendo necessária supervisão contínua.
Apesar de vários estudos, que continuam a decorrer, e do facto de já se efectuarem tratamento medicamentoso da demência, que incidem sobre distúrbios cognitivos e sintomas comportamentais e psicológicos, também terá grande relevo o tratamento não medicamentoso. Neste último tratamento há a considerar o suporte familiar, terapia ocupacional, fisioterapia, psicoterapia.
Qualquer intervenção que vá para além da cura ou prevenção da doença é um acompanhamento de carácter difícil, atendendo à globalidade do doente e família, uma vez que acarreta um conjunto de problemas não só físicos como psicossociais e espirituais. Nesta linha de pensamento, surge o conceito de cuidados paliativos, aplicado às situações de demências, sobretudo nos estadios mais avançados.
De salientar que durante o debate final denotou-se a falta de monitorização de dados na Região em relação ao número de doentes portadores de demência, achando-se que estamos a lidar com a “ponta do iceberg”. Noutra vertente, constatou-se que existem poucos meios, tanto materiais como humanos, e os que existem nem sempre estão canalizados no sentido de optimizar as suas capacidades.
Este colóquio possibilitou, pois, a sensibilização dos presentes – profissionais de saúde e pessoas de outras áreas – para a problemática das demências e para o contributo que os cuidados paliativos podem dar face a estes doentes e suas famílias.

                     Patrícia Ferreira, aluna no Curso PGCP na ESEnfAH-UAC