domingo, 16 de janeiro de 2011

I Encontro Cuidados Paliativos – Açores 2010



Núcleo Regional
Açores

No passado mês de Dezembro, o Núcleo Regional Açores da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, na pessoa que o representa - Dra. Teresa Flor de Lima -, organizou o “I Encontro de Cuidados Paliativos – Filosofia dos Cuidados Paliativos”. Este encontro decorreu no anfiteatro 2 do Complexo Científico da Universidade dos Açores, dirigindo-se a todos os profissionais de saúde ou pessoas que manifestem interesse pelo tema.

Foram convidados neste encontro duas figuras de renome nacional e internacional: o Enfermeiro Manuel Luís Capelas e o Professor Doutor José Carlos Bermejo.
José Carlos Bermejo é uma das principais personalidades no campo da Relação de Ajuda em Espanha, é religioso Camilo e dirige o Centro de Humanización de la Salud en Tres Cantos em Madrid, instituição onde se prestam cuidados paliativos a doentes terminais. Este centro é considerado de vanguarda no país, assim como uma referência internacional. Professor em várias universidades pelo mundo, José Carlos Bermejo é autor de mais de 30 livros publicados no campo da relação de ajuda, cuidados paliativos, luto, dor... e, por último e não menos importante, um excelente orador.
Manuel Luís Capelas é enfermeiro e detém uma pós-graduação e mestrado em cuidados paliativos, sendo doutorando no Instituto de Ciências da Salde da Universidade Católica Portuguesa. É docente nesta instituição e colaborador em várias universidades do país; é ainda membro de diversas associações de Cuidados Paliativos nacionais e internacionais e possui uma capacidade oradora hipnotizante.


“O que são Cuidados Paliativos” – José Carlos Bermejo

O programa foi iniciado com a conferência de José Carlos Bermejo sobre “O que são Cuidados Paliativos”. Cuidados paliativos são prestados a pessoas com doença avançada, incurável e progressiva, em estado avançado, visando o alívio do sofrimento, a promoção da dignidade e da qualidade de vida .
A morte é sempre digna, por ser uma condição humana; as condições para morrer é que nem sempre são dignas, existindo mesmo uma diferenciação entre dor e sofrimento em que é seguramente mais fácil eliminar o primeiro.
Os cuidados paliativos são uma resposta mais humana perante o fim de vida, embora não se dirijam, somente à fase final da vida, nem tão pouco em fase agónica, podendo ser introduzidos em fases mais precoces da evolução das doentes, a par de medidas com intenção curativa. Este tipo de cuidados deve ser sempre assegurado por uma equipa multiprofissional, que desenvolva um trabalho de cariz interdisciplinar.
Dos inúmeros instrumentos básicos foram enunciados destacamos: o controlo da dor; o apoio emocional à pessoa doente e família; as mudanças organizacionais resultantes do trabalho em equipa e manifestando-se por pequenas grandes coisas tais como colocar objectos pessoais, ajuste de dietas ao gosto pessoal, estratégias para ajudar no impacto emocional da equipa; a concepção de terapêutica activa; a importância do ambiente (acolher não só o utente como a família, flexibilidade de horários).
Todos estes instrumentos têm como objectivo, e parafraseando San Camillo, cuidar como uma mãe cuida o seu único filho.

 
“Como organizar Cuidados Paliativos”- Manuel Luís Capelas

Num segundo momento de partilha, o professor Manuel Luís Capelas falou-nos na organização de um serviço de Cuidados Paliativos. A prática requer organização própria e específica, prestada por equipas técnicas preparadas para o efeito.

Motivação não basta!

Pode-se enunciar como possível primeiro passo o envolvimento e compromisso institucional, identificando claramente o que depende de nós e, por outro lado, identificando o que depende dos outros.
 Como segundo passo, há que fazer uma escolha criteriosa de um modelo, valorizar sempre o tratamento global e activo da pessoa doente por uma equipa multidisciplinar, quando não há possibilidade de cura e cujo objectivo principal do tratamento não será prolongar a vida.
Outro passo passaria por uma Autoavaliação; nesta cruzar-se-iam variáveis como pontos forte, pontos fracos, oportunidades e ameaças, não descurando tanto o ambiente externo como o interno e o que se traduziu em favorável e desfavorável.
O quarto passo é a Estimativa das necessidades: local de morte e uso de recursos nos últimos meses de vida; aspectos sociais, económicos e culturais; necessidades clínicas; uso e abuso de recursos; perspectivas profissionais; desejos das pessoas doentes e famílias; tipologia das pessoas doentes.
  O quinto passo será a Escolha de Recursos, diferenciação de recursos, recursos específicos e rede de articulação; neste ponto atende-se à complexidade estrutural das equipas e actividades: Unidade de Cuidados Paliativos; Unidade Hospice; Equipa de Suporte Intra-hospitalar; Equipa de Cuidados Paliativos Domiciliários; Equipa de Voluntários (Voluntear Hospice Team) e Hospital de Dia.
O passo apontado de seguida foi a Formação ressalvando que, para além de ser uma constante, sem formação específica adequada não é possível a prática deste tipo de cuidados.
O sétimo passo refere-se os Fármacos e a toda a especificidade que os envolve.
O passo seguinte será o Modelo de Abordagem que trata o domínio das necessidades e problemas em cuidados paliativos.
O nono passo é a Antecipação, relativamente a dificuldades e ameaças que poderão surgir, nomeadamente o deficiente financiamento, o risco de Burnout, o excesso de necessidades e consequente aumento da procura, o desequilíbrio entre cuidados, a necessidade de formação, investigação e instituição e, também, a possibilidade de desagregação de equipa e banalização de cultura curativa.
 Como último passo, e não menos importante, será o Desenvolvimento que terá de ser uma constante. Será parte constituinte desde o projecto inicial, a operacionalização, a consolidação e, numa última fase, a estabilidade avançada.


Workshops

Após o almoço, tivemos dois momentos que, embora distintos, se complementaram: Workshop 1 “Comunicação em Cuidados Paliativos” por José Carlos Bermejo e Workshop 2 “Trabalho em Equipa” por Manuel Luís Capelas. Ambos os momentos foram de intensa interacção entre os participantes e os convidados, contribuindo, deste modo, para um enriquecimento de quem partilhou este momento de aprendizagem com tão ilustres convidados.





E, para finalizar:

Acreditamos que iniciativas como esta são essenciais, dado que reúnem uma componente de aprendizagem e de partilha que, conjuntamente, contribuem para que os Cuidados Paliativos sejam, cada vez mais, percepcionados como uma necessidade real que existe.
Tendo noção que a nível nacional e internacional muito há a fazer, os Açores não poderiam ser excepção e seguem esta tendência. Partindo do princípio que muitas acções paliativas são praticadas, esperamos que se desenvolvam equipas diferenciadas, inseridas numa rede de cuidados da qual todos nos possamos orgulhar.
Aguardamos pelo II Encontro de Cuidados Paliativos e que este seja também o reflexo de trabalho que tenha sido desenvolvido durante este ano.


                             
                       Patrícia Ferreira, aluna no Curso PGCP na ESEnfAH-UAC

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